Descartes e o Cogito

O cogito, sinônimo de noção clara e distinta , pode ser encontrado na Segunda Meditação Metafísica de Descartes. Mas antes de apresentá-lo, Descartes tem que fazer com que o leitor abandone, temporariamente, suas certezas. Para tanto ele não as combateu uma a uma, mas sim as atingiu em seus pilares.

Negação dos sentidos

Primeiro nega-se os sentidos, que alguma vez já o enganou e por isso mesmo não são confiáveis. Temos aí uma dúvida já bastante forte e que foi, por séculos, a principal arma do ceticismo. Mas negar a certeza que vem dos sentidos não é suficiente para duvidar de tudo, pois seria loucura duvidar de si mesmo enquanto escreve, enquanto sente calor etc, isso fazem os loucos, diz Descartes. Então se introduz o argumento do sonho.

O Argumento do Sonho

René Descartes

René Descartes

No sonho temos as mesmas sensações de que quando estamos acordados, e para além delas, ainda é possível que sejamos mais insensatos que os loucos. Supondo que dormimos, podemos duvidar de muita coisa, mas mesmo assim as substâncias simples  não podem ser objetos da dúvida. Nesse caso, ainda estão fora do escopo da dúvida os objetos das ciências como a Aritmética e a Geometria, pois elas não tratam de objetos existentes na natureza, e o sonho pode por em dúvida somente aquilo que foi visto, pois, como Descartes argumenta, são formadas de coisas reais e verdadeiras, como fazem os pintores ao criar quimeras. O que subsiste, então, são as realidades matemáticas. Nas palavras de Descartes “quer eu esteja acordado, quer esteja dormindo. Dois mais três formarão sempre o número cinco e o quadrado nunca terá mais do que quatro lados.

O Deus Enganador

Por último é colocada a possibilidade de que eu tenha sido criado por um Deus que me fez de forma que tenha sensações de todas as coisas externas, como o céu, a terra, corpos extensos, figuras e grandezas. Nesse caso, Deus pode ter também desejado que eu sempre me enganasse ao enumerar um quadrado ou ao somar dois mais três. Entretanto, eu o concebo soberanamente bom, não seria razoável que ele me engane, ou mais, que ele permita que me engane. Além disso, aqueles que não admitam a existência de um Deus tão poderoso poderiam não aceitar que há erro nestas questões. Frente esta objeção, Descartes, tendo como certeza que a via pela dúvida é a mais segura de todas, prefere fingir que essas realidades são falsas a tomá-las inescrupulosamente. Então é proposta a existência de um gênio maligno, ao invés desse Deus soberanamente perfeito, que seja a fonte de toda verdade. Posto que este gênio maligno está disposto a enganá-lo, ele não pode aceitar nada como certo.

Neste ponto, Descartes leva a dúvida ao extremo, pois assim, se esta dúvida não o leva à verdade, ao menos o dará condição de suspender o juízo. Aqui temos uma particularidade cartesiana que o levará a ser a referência quanto a questões céticas após ele
após a dúvida, Descartes vai procurar um ponto Arquimediano para fundar sua filosofia. Ele se pergunta se poderia haver algum Deus ou potência que coloque certos pensamentos nele, o que ele descarta, já que estes pensamentos podem ser imputados por ele mesmo. Depois questiona de que poderia, ele mesmo, ser composto. Ele já não é corpo, pois havia negado que tivesse qualquer corpo.

O Cogito

A grande máxima cartesiana se segue desta posição. Descartes se persuadiu de que não existe nenhum corpo. Disso se segue que ele também não existe? “Certamente não, eu existia sem dúvida, se é que eu me persuadi, ou, apenas, pensei alguma coisa.”  Mesmo que exista este tal Gênio Maligno disposto a nos enganar, não resta dúvida de que sou, já que ele me engana. E, mesmo me enganando, nunca poderá fazer com que eu nada seja enquanto eu puder pensar.  Esse raciocínio leva a Descartes concluir que a proposição: “‘Eu sou, eu existo’ é verdadeira sempre que a concebo em meu próprio espírito.”

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