Variação Linguística: Contexto de Fala

Toda língua possui variações. O português falado por um gaúcho não é o mesmo do falado por um paraense, assim como o português usado por um advogado em uma petição é diferente do de um blog. Para compreender essas variações, é preciso pensar em três fenômenos.

Primeiro, a língua varia de acordo com os grupos sociais e o acesso à educação formal. Segundo, as variações também acontecem dentro de um mesmo grupo social conforme as diferentes situações de uso, sejam elas formais ou informais. Além disso, grupos específicos possuem falares específicos, como os jargões, usado por profissionais da mesma área, e as gírias, faladas por jovens ou grupos urbanos.

A variação linguística ocorre devido ao contexto, cultura, dentre muitos outros fatores. Por isso, é importante entender que este processo é algo natural, e que não deve ser menosprezado.

Contexto de fala

Essas variações linguísticas mostram que as pessoas fazem o uso pessoal da língua, imprimindo nela suas especificidades e individualidades. Por exemplo, uma pessoa que sempre morou em área rural não irá utilizar expressões iguais a de alguém que é da área urbana. São maneiras diferentes de se comunicar, o que não significa que estão erradas.

No entanto, é necessário que exista uma língua padrão, que sirva de norma para os seus falantes. Afinal de contas, se cada um falar de uma forma diferentes, não haverá comunicação entre as pessoas. Para situações mais formais, são utilizadas as regras da gramática normativa, para escrita de textos, etc.

Para que haja comunicação entre os falantes, é preciso levar em conta o interlocutor, ou seja, com quem se fala. Quem é este interlocutor, de onde ele vem, qual seu nível de conhecimento da gramática normativa?

Além disso, é preciso pensar o contexto da fala, o veículo de comunicação, o assunto e o objetivo da conversa para, enfim, decidir qual variação da língua utilizar.

Cada pessoa utiliza a língua de forma diferente, pois eles cresceram com uma relação específica com ela. Por isso, apesar da gramática normativa ser relevante, deve-se prestar respeito a relação individual do indivíduo com a língua, sem desprezar as variações.

Como dito, existem diversos tipos de variações linguísticas. Abaixo, iremos falar um pouco mais sobre cada tipo de variação, confira.

Variação Regional: A variação regional se refere a todas as diferenças linguísticas de habitantes de diferentes lugares. No Brasil isso é muito perceptível. Por exemplo, as diferentes denominações que temos para mandioca: macaxeira, mandioca, aipim.

Variação Social: É óbvio que pessoas com maior nível de educação, e, consequentemente, social, são mais propícios a utilizarem a gramática normativa. Por isso, falantes menos instruídos tem a tendência de se afastarem um pouco mais das regras.

Por exemplo, podem haver variações fonológicas, como “bicicreta” em vez de “bicicleta”, “probrema” em vez de “problema”. Ou então, variações morfossintáticas, como trocar “dez reais” por “dez real”. Leia o poma abaixo, que expões esta variação:

Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

Oswald de Andrade

Variações estilísticas: As variações estilísticas são as mudanças que ocorrem na língua de acordo com o nível de formalidade a que o falante está exposto. Por exemplo, em uma reunião de trabalho, a tendência é que seja utilizado um vocabulário mais arrojado, próximo às regras gramaticais.

Já no caso de situações informais, é comum o uso de gírias, jargões e outras expressões. As gírias são um exemplo perfeito de linguagem informal e também do nível econômico a que o falante está exposto. As gírias são mais comuns em locais com a cultura mais aflorada, com maiores variações linguísticas e nível socioeconômico mais baixo.

Leia o poema abaixo, de Oswald de Andrade, que exemplifica muito bem a situação das variações linguísticas.

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
                              Oswald de Andrade

Variações comuns

  • Substituição do lh por i: telha/teia; velha/veia; palha/paia.
  • Uso d r no lugar do l: planta/pranta; blusa/brusa.
  • Simplificação da concordância: as meninas/as menina.
  • Simplificação da conjugação verbal: eu vou/você vai/nós vai/ eles vai.
  • Substituição do ndo por no: falando/ falano; passando/passano.
  • Redução do e e do o átonos: ovo/ovu; ele/ eli.

Observação: por diferirem da norma culta padrão, é comum vermos esse tipo de variação como erros de português. Mas não existe uma forma certa ou errada de usar a língua. Como dissemos antes, a língua é flexível e a comunicação depende do contexto e do interlocutor. Não há problema em dizer “estava andano na rua” em uma conversa entre amigos, mas em uma prova é necessário o uso da normal culta.

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