Variedade e Preconceito Linguístico

Em todas as línguas do mundo, manifesta-se um fenômeno conhecido como “variação linguística”. Isso significa que os indivíduos, dependendo de sua condição geográfica, história, social ou estilística – e dependendo, também, de seu contexto cultural – exercem influência sobre o idioma e modificam seu aspecto tanto na forma oral quanto na forma escrita.

A comunicação está presente no cotidiano de todas as civilizações. Mesmo aqueles que não podem falar, ouvir ou escrever encontram suas próprias maneiras de se comunicar. As mais diversas formas linguísticas – e todas as suas variações – são a característica básica e primordial do ser humano. É através da comunicação que podemos expressar quem somos, o que sentimos, em que acreditamos e, dessa forma, nos tornamos únicos e especiais, cada um a seu modo.

Por todos esses motivos, não há razão para que tenhamos preconceito contra qualquer indivíduo que manifeste uma variedade linguística diferente da nossa. As diferenças são o que nos caracteriza e o que permite que a humanidade continue existindo. Quando estamos lidando com seres humanos, o respeito precisa estar presente em todos os aspectos, e com a variação linguística não é diferente.

Mas, afinal, o que é o preconceito linguístico?

Preconceito é o nome dado ao ato de ridicularizar, desrespeitar e, consequentemente, humilhar alguém ou algo que não está de acordo com os nossos padrões. O preconceito linguístico, por sua vez, é o ato de depreciar a fala ou a escrita do outro.

Variedade linguística: preconceito linguístico

Humilhar um indivíduo não é aceitável em nenhuma situação

O preconceito linguístico é manifestado das mais diversas formas. Essa manifestação varia de acordo com as ideias de “certo e errado” e “bom e ruim” de cada indivíduo. Embora a língua portuguesa, assim como qualquer outra língua, tenha suas normas para garantir a manutenção do idioma e para garantir que todos possam conviver e se comunicar civilizadamente, e embora cada um tenha o direito de escolher do que gosta mais ou não, nada justifica humilhar o outro por sua forma de falar.

À medida que a humanidade evolui, a língua evolui também. Portanto, a língua pode ser considerada um objeto histórico, estando sempre sujeita a transformações e variações de acordo com uma série de fatores – alguns deles são aqueles citados no início desse artigo. Julgar ou ridicularizar um indivíduo apenas por discordar de sua variante linguística é estupidez. O respeito é fundamental e é ele que deve sempre reger nossas atitudes.

É claro que temos como base a gramática normativa em diversas situações, como em entrevistas de emprego. Porém, a pluralidade linguística nos permite ultrapassar esse parâmetro e determinar novas formas de nos comunicar. Falando em âmbito estrangeiro, um morador da Carolina do Sul fala de modo diferente de um habitante do Texas. Isso porque o Texas tem uma população mais rural, enquanto a Carolina do Sul tem uma sociedade influenciada culturalmente pelos negros.

Já na Austrália, os habitantes utilizam expressões diferentes dos americanos no inglês. Por exemplo, os australianos abreviam a expressão “afternoon”, que significa “tarde”, para “arvo”. Isso é um exemplo de variação linguística, em que numa mesma língua são utilizados termos diferentes com o mesmo significado. As variações não ocorrem somente em um mesmo país, mas sim em diversas regiões falantes da mesma língua.

No Brasil este preconceito é muito recorrente, devido à grande extensão do país e seus costumes diferentes. A forma de falar muda muito do norte para o sul e, infelizmente, é muito comum ocorrer o preconceito linguístico nesses casos. Dentro de um mesmo estado pode ocorrer diferenças linguísticas, por exemplo, entre um indivíduo que mora na capital e outro que mora no interior.

Os indivíduos que sofrem com o preconceito linguístico muitas vezes adquirem problemas de sociabilidade ou mesmo distúrbios psicológicos, precisando de acompanhamento psicológico para voltar à sua rotina. Sente-se que aquele jeito de falar, seu repertório linguístico, está equivocado. Isso causa uma crise de identidade, pois o modo como nos comunicamos diz muito a respeito de nossas origens.

O poema de Oswald de Andrade demonstra esta variação linguística de forma leve e divertida:

Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados

Ou seja, no nosso país, existem tanto pessoas que usam “milho, melhor, pior, telha, telhado”, quanto pessoas que falam “mio, mió, pió, teia, teiado”. Então, as últimas expressões citadas, como não estão nos conformes da gramática, acabam sendo desprezadas e consideradas dialeto de baixo nível social e econômico. É por isso que temos que valorizar todas as expressões e variações da língua, para que não haja este viés preconceituoso. Ademais, caso formos olhar rigorosamente a gramática portuguesa, nenhuma região segue estritamente suas regras. Ou seja, ninguém fala o português correto. Todas possuem marcas de linguagem provenientes da cultura, contexto socioeconômico e etc.

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